Sunday, January 6

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.La Clef des Champs, 1936
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A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.
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A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.
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Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.
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Sophia de Mello Breyner
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6 comments:

náufrago do tempo e lugar said...

A vida, como se fora uma série de dramas desenrolados em dois actos, nada mais é que uma sucessão de partidas e chegadas,
sendo que estas se confundem a tal ponto, que, por vezes, não conseguimos distingui-las.

Belo poema, a que a imagem fornece um valor acrescentado.

Mar Arável said...

No fundo dos espelhos

também estamos nós

de tão perto

as memórias

e os amanhãs

Anonymous said...

"Partir é morrer um pouco".

Sempre.

Mas partir implica, muitas vezes, regresso, que é saboroso como se fosse o primeiro.

Parte-se.
Volta-se.

Sina de português.

velha gaiteira said...

Memórias, querida Teresa, quem as não tem?

Mar Arável said...

quando as árvores se inspiram

soltam pássaros

para outras vidas

isabel mendes ferreira said...

e é assim que a vida se desprende. como uma garra que se solta. e deixa no caminho (que é sempre breve) o fundo raso do espelho. onde os enganos são sucessões de clarões e um algo mais de inexplicável.

Nunca uma Sofia tão prenunciadora do momento de partir.


um abraço.

que foi sempre espelho de uma ternura. inexplicável. mas "saído a germinar" da cumplicidade que não se troca nem vende. antes fica. como uma tela. que será sempre memória.

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bom dia de todos os dias TeresaMar.