Tuesday, July 10

Utopia, Mestria do Prazer
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Le Thérapeute, 1936
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"Discutem sobre a virtude e o prazer; mas primária e suprema é a questão sobre a felicidade humana: em que é que se situa, se numa única coisa se em muitas. Ora quanto a isto parecem mais propensos do que seria razoável para a corrente que defende o prazer, enquanto procuram definir a felicidade humana no seu todo ou na parte principal.
Designam por prazer todo o movimento ou todo o estado de corpo ou de alma nos quais o homem, guiado pela natureza, se delicia em viver. Nos prazeres que se reconhecem como autênticos, os utopianos assinalam diversas espécies: uns atribuem-nos à alma, outros ao corpo.
À alma associam o entendimento e o gozo que a contemplação da verdade faz nascer; a isso junta-se a recordação agradável de uma vida bem passada e a esperança sem vacilação de um bem futuro.
Quanto ao prazer do corpo, repartem-no por dois tipos. O primeiro deles será aquele que inunda os sentidos de uma acalmia de plenitude. Quanto a um segundo, gozar de saúde sem entraves de doença; na realidade, se não houver que enfrentar a dor, o bem-estar é já de si uma satisfação, mesmo que a vida decorra sem ocasionar um prazer vindo de fora.

. Le Maître du Plaisir, 1926

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Abraçam os utopienses, principalmente e em primeiro lugar, os prazeres do espírito (consideram-nos, efectivamente, acima de todos, no topo).
Quanto à beleza, à robustez, à destreza, os utopienses cultivam-nas de bom-grado como verdadeiros dons da natureza que são também aprazíveis. Melhor ainda, como condimentos que tornam a vida aprazível, buscam prazeres que entram pelos ouvidos, pelos olhos, pelas narinas, que a natureza quis que fossem próprios e peculiares do homem (de facto, nenhuma outra espécie de animais se detém a olhar para a elegância e para a beleza, ou se deixa impressionar pelo encanto dos odores, a não ser que seja para distinguir alimentos, nem se apercebe das escalas dos sons e da sua harmonia ou dissonância).
O juízo dos utopienses é também aqui sempre o mesmo: um prazer de menor qualidade não deve criar obstáculo ao de maior qualidade."
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Thomas Morvs in Vtupia
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4 comments:

spring said...

olá teresamaremar!
no mundo em que vivemos o olhar da utopia de tantos pensadores, está profundamente esquecido. Mas a felicidade ainda se constrói por aí, escondida de olhares materialistas. Nela habitam os pequenos prazeres que nos enchem a vida e a alma, de um pouco mais de azul.
beijinhos
paula e rui lima

Anonymous said...

Cada homem é utópico à sua maneira, cada um escolhe a sua felicidade, cada um opta pelo que lhe dá prazer, rejeita o que não suporta, deleita-se com insignificâncias e pode até banalizar o que para outros seria o éden supremo.
Não há definição de felicidade, utópica ou não.
A minha será necessariamente diferente da do meu vizinho.
Há até quem defenda que a felicidade não existe, há quem a creia como soma de pequenos instantes, enfim, tema difícil e de muitas verdades.

teresamaremar said...

Depois de ler ambos os comentários, fiquei às voltas com algo que li há tempos, mas não consigo lembrar de quem, em que era dito que se era feliz quando não nos preocupavamos com a felicidade.

A felicidade parece ter-se tornado uma exigência dos novos tempos, uma busca incessante, como a eterna juventude. Urgente, imperativa e, de preferência, uma constante. Apreciariamos os momentos especiais se assim fosse?

Talvez para com a felicidade devessemos agir como com tudo o mais, não exagerar nas expectativas, não as tecer em excesso, para que quanto venha seja uma mais valia.

Lembrei um outro pensamento, de quem também ignoro, diz algo como "De uma viola uns tiram deliciosas melodias, outros apenas arranham sons".
A forma como olhamos o mundo e a vida, como acreditamos pode ser já um caminho para um estado de felicidade.

Essencialmente creio a felicidade como uma colagem de momentos, nunca um estado a tempo inteiro. Mas sinto a serenidade como igualmente satisfatória.
Creio ainda nos pequenos grandes nadas, o aparentemente fútil e inútil, que Bernando Soares subscreve em desassossegos.

Fundamental é a sabedoria do tempo que nos ensina o deleite e apaziguamento em pequenos prazeres. E podem ser um aroma, uma frase, uma melodia. Que nos encha a alma.

Obrigada

Anonymous said...

bom dia.






___________prazer_____________!




bjs.


imf.