Friday, May 11

Fingimentos

. La Durée Poignardée, 1938
.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
.
.
Fernando Pessoa, Autopsicografia
.
.

4 comments:

Anonymous said...

Pessoa também disse que "toda a poesia reflecte o que a alma não tem".
Assim, se poesia é fingimento, a alma é sincera.

Esta simples sequência lógica dá que pensar.

Obrigado por isso.

E a ligação ao "comboio de corda" com o quadro...brilhante!

Anonymous said...

Teresa
QUE LUGAR ENCANTADOR!

ELISABETE CUNHA

teresamaremar said...

Olá Rigoletto

a poesia (ainda que por vezes mentirosa) reflecte o que a alma (sincera) não tem. O que à alma faz falta, ela di-lo. Em entrelinhas, parêntesis ou dissimulação :)

Obrigada


___________________________________

Olá Elisabete

para já penso ser um lugar apenas Magritte [ma griffe :)]

mais adiante veremos, mas até alguma mudança, há muito Magritte a mostrar

spring said...

Pessoa+Magritte= o poeta "fingidor" criador dos Heterónimos + o pintor e o seu duplo olhando as imagens do surrealismo.
cumprimentos cinéfilos
paula e rui lima