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La Durée Poignardée, 1938

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O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
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E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
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E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
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Fernando Pessoa, Autopsicografia
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4 comments:
Pessoa também disse que "toda a poesia reflecte o que a alma não tem".
Assim, se poesia é fingimento, a alma é sincera.
Esta simples sequência lógica dá que pensar.
Obrigado por isso.
E a ligação ao "comboio de corda" com o quadro...brilhante!
Teresa
QUE LUGAR ENCANTADOR!
ELISABETE CUNHA
Olá Rigoletto
a poesia (ainda que por vezes mentirosa) reflecte o que a alma (sincera) não tem. O que à alma faz falta, ela di-lo. Em entrelinhas, parêntesis ou dissimulação :)
Obrigada
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Olá Elisabete
para já penso ser um lugar apenas Magritte [ma griffe :)]
mais adiante veremos, mas até alguma mudança, há muito Magritte a mostrar
Pessoa+Magritte= o poeta "fingidor" criador dos Heterónimos + o pintor e o seu duplo olhando as imagens do surrealismo.
cumprimentos cinéfilos
paula e rui lima
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