Tuesday, September 18

Marioneta de Trapo

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Entr'acte, 1927
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Se, por um instante Deus se esquecesse do que sou
uma marioneta de trapo e me presenteasse
com um pedaço de vida, possivelmente não diria
tudo o que penso, mas, certamente, pensaria
tudo o que digo.
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Daria valor às coisas não pelo que valem mas
pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais pois sei que a cada
minuto que fechamos os olhos, perdemos
sessenta segundos de luz.
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Andaria quando os demais
parassem, acordaria quando os outros dormem.
Escutaria quando os outros falassem e gozaria um
bom sorvete de chocolate.
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Se Deus me presenteasse com um bocado de vida,
vestiria simplesmente, me jogaria de bruços
no solo, deixando a descoberto não apenas meu
corpo, como minha alma.
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Deus meu, se eu tivesse um coração escreveria meu
ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saisse.
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Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre estrelas
um poema de Mario Benedetti e uma canção de
Serrat seria a sereneta que ofereceria à lua.
Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a
dor dos espinhos e o encarnado beijo das suas pétalas.
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Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida.
não deixaria passar um só dia sem dizer às gentes
te amo, te amo.
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Convenceria cada mulher e cada homem que são
os meus favoritos e viveria enamorado do amor.
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Aos homens lhes provaria como estão enganados ao
pensar que deixam de se apaixonar quando
envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam
de se apaixonar.
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A uma criança, lhe daria asas, mas deixaria
que aprendesse a voar sozinha.
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Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a
velhice, mas com o esquecimento.
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Tantas coisas, aprendi com vocês, os homens...
Aprendi que todo o mundo quer viver no cimo da montanha,
sem saber que a verdadeira felicidade
está na forma de subir a escarpa.
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Aprendi que quando um recém nascido aperta com a sua
pequena mão o dedo de seu pai, o tem
prisioneiro para sempre.
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Aprendi que um homem só tem direito de olhar um
outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.
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São tantas as coisas que pude aprender com vocês, os homens...
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Johnny Welch ou Garcia Marquez
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a polémica sobre a sua autoria persiste
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5 comments:

Bandida said...

vou levar-te a música, ai vou, vou...


beijo teresamar

B.

Mar Arável said...

CANTAREI

Zénite said...

Sublime!
Também desconheço o autor.

se viver é, já de si, uma estranha aventura,
renascer, é, por si só, a maior das venturas.


Zénite
(na altura em que coloquei este escrito num comentário, que acabo de reencontrar no blogue do "Lobices", eu era Pólux) :)

o Reverso said...

t?eresa, como consegue desdobrar-se

Anonymous said...

Movidas e orientadas por cordas.
Sujeitas á vontade de quem as manobra.
Sempre com a mesma expressão, normalmente risonha.

Por "cordas" entenda-se "conveniências", por "quem as manobra" leia-se "preconceitos" e em vez de bonecas teremos...o Homem.

Que se adapta, qual marioneta, às circunstâncias consoante a situação.

Homem...ou camaleão?